29.10.16

O LIVRO DO EXÍLIO

Está pronto, e será apresentado e posto à venda nas próximas Jornadas Llansolianas, nos dias 5 e 6 de Novembro, o novo livro da colecção «Rio da Escrita» (edição Mariposa Azual) que documenta as Jornadas do ano passado, sobre «Llansol: A Vocação do Exílio». Este volume inclui um extratexto de 48 páginas a cores com fotografias e textos que evocam todos os lugares que atravessam a vida e a escrita de Maria Gabriela Llansol.
Fica aqui uma primeira imagem da capa, e um excerto do texto de introcução ao volume.



Pórtico

Foi já a sétima vez que reunimos em Sintra algumas dezenas de estudiosos e leitores de Llansol para mais uma viagem com o seu texto, que desta vez nos permitiu deambular por um largo espectro de questões relacionadas com o tema da «Vocação do exílio» na existência, nos modos de escrita e na visão do mundo de uma autora como Maria Gabriela Llansol.
As intervenções e os debates, os filmes e as leituras permitiram perceber como a vocação do exílio em Llansol, para além de visceral, é dupla e paradoxal. Há na sua vida, que é a sua Obra, uma tendência natural para, em sentido real e metafórico, se exilar do mundo, do «gregário», do comum, e zarpar para as margens: «nós» – isto é, os de uma estirpe que é a sua e a das suas figuras – «herdámos as margens», lemos já em Causa Amante. Por outro lado, num dado momento do seu percurso acontece o chamamento do exílio concreto, que a levará a viver vinte anos numa Europa do Norte que, de outro modo, não teria conhecido – pelo menos como a conheceu depois da decisão do exílio semivoluntário, forçado pelas circunstâncias de uma guerra que faria nascer muita outra literatura «empenhada», com um empenho que não seria o seu, apesar de, nos dez anos de Lovaina, e mesmo depois, viver imersa num ambiente de contestação do Estado Novo e dessa Guerra Colonial. Mas o lugar de exílio de Llansol estava já assinalado antes, desde a adolescência: é o da Ilha – que tanto pode ser a do quarto onde lê e escreve como a de Robinson, por analogia (por exemplo em Lisboaleipzig, ou já nos diários de juventude), ou a «Ilha de Ana de Peñalosa», o «lugar onde se resiste», por afinidade figural, desde O Livro das Comunidades. []