19.5.16

LLANSOL E ILDA DAVID' NA «FESTA NO CHIADO»

No âmbito da semana «Festa no Chiado» e do programa «5 Livros / 5 Autores», do Centro Nacional de Cultura, falou-se ontem, no Círculo Eça de Queiroz, do Livro de Horas V (O Azul Imperfeito), edição Assírio & Alvim, e do livro catálogo que reune trinta anos de desenho da pintora Ilda David', com o título Do Negro a Luz, uma edição Documenta/Fundação Carmona e Costa, da responsabilidade de Nuno Faria e Manuel Rosa.


Numa conversa moderada por Ana Marques Gastão, Maria Etelvina Santos e Ilda David' deram conta dos respectivos livros, destacando-se ao longo do diálogo configurações de práticas e de ideias que aproximam a escritora e a pintora, nomeadamente: 

Maria Etelvina Santos, Ana Marques Gastão e Ilda David'
no Círculo Eça de Queiroz

– uma ideia de Comunidade que faz convergir figuras, seres, objectos para um espaço sem tempo nem cronologia que o determine;
– neste contexto situou Maria Etelvina Santos uma figura como Aossê e os elementos «catalizadores» da sua metamorfose na casa dos Bach, que constitui o fio condutor essencial dos trinta anos de escrita em torno de F. Pessoa agora depositados neste quinto Livro de Horas;
– a ideia, comum a ambas as criadoras, de um trabalho que se desenvolve como um «Livro de Horas» contínuo, em que nas várias horas do dia a leitura (matéria-prima comum a ambas), o olhar sobre o mundo, a escrita, o desenho brotam de modo não pré-concebido, para depois se configurarem, numa total disponibilidade e imprevisibilidade, em obras sempre inacabadas;
– o paradigma «arqueológico» que serve às duas autoras, um processo de trabalho em camadas, que vive de ecos, ressonâncias, recuperação de matéria aparentemente perdida;
– finalmente, e tomando como pretexto o título do livro-catálogo de Ilda David', as três intervenientes falaram ainda, também com o público, da importância de um modo muito particular de entender a luz, presente também na sombra e no negro, e determinante, quer para a artista, quer para a escrevente «canibal de olhos», imagem que um dia serviu a Llansol para dar de forma intensa o seu modo próprio de se relacionar com o mundo.