22.6.15

«UM ALVOROÇO DE IMAGENS»
A iconografia llansoliana vista e comentada na «Letra E»

(clique na imagem para aumentar)

Existe no espólio de Maria Gabriela Llansol um conjunto heterogéneo de imagens de vários tipos e proveniências, e sobre os mais diversos suportes, que a autora foi reunindo, sem quaisquer intenções de chegar a algo que se pudesse aproximar de uma colecção ou de um «atlas», mas simplesmente porque, por uma razão ou por outra, e seguindo provavelmente o princípio do imediato não-uso, elas pediam para ser guardadas (olhadas e preservadas), ligando-se a quem as olhava por um elo desinteressadamente afectivo, estético ou já pré- ou pós-figural: «Vou estabelecer um dossier das imagens que me movem e comovem» (lemos no caderno 1.51, p. 68).
A organização e classificação desse núcleo de cerca de 700 imagens (de que demos a ver uma pequena amostra no passado sábado) por Teresa Projecto permite-nos agora – até com algum lugar para a surpresa – estabelecer ligações explícitas ou indirectas com textos e livros de Maria Gabriela Llansol. Para além disso, reforça-se assim o lugar particular, e mesmo decisivo, da imagem nesta Obra: a imagem visual ou icónica (agora apreensível na sua singularidade e nas suas relações) e a imagem textual, que tão fortemente marca esta escrita («A imagem do imaginador é o último reduto da imaginação», Caderno 1.43, p. 138).
Deste novo sector agora disponível do espólio de Llansol nos falou no sábado a Teresa Projecto, doutoranda em Belas-Artes e nossa colaboradora. A sua intervenção trouxe um conjunto de questões que permitem entender melhor a iconografia llansoliana nas diversas vertentes que integram estas imagens no método de escrita, na construção figural ou no universo objectal da autora, através das «correspondências silenciosas» que nesta rede se tecem. Disso dá conta o texto que se pode ler a seguir, que completamos com algumas fotografias da sessão e das imagens expostas na «Letra E».

15.6.15

«O VALE DAS ESTAMPAS PERENES»
As imagens de Llansol na «Letra E»



O vale de que fala o título é o lugar das imagens que desde sempre envolvem o quotidiano de M. G. Llansol, que ela busca ou vêm ao seu encontro. Ao longo dos anos, ela foi guardando imagens de todos os tipos e em todos os suportes, sem preocupações de coleccionar, orientando-se antes por afinidades que subitamente nelas se revelavam com o seu próprio texto (como lemos num caderno de 1998: «vou estabelecer um dossier das imagens que me movem e comovem»). São muitas centenas de postais, folhas de calendários ou catálogos, de revistas e folhetos farmacêuticos, desenhos e pintura, gravura e cerâmica, pagelas e lugares do mundo. Uma panóplia visual que iremos mostrar e comentar no próximo sábado, 20 de Junho, a partir das 16 horas na «Letra E». Teresa Projecto, doutoranda em Belas-Artes e nossa colaboradora, falará deste sector do espólio que organizou e classificou ao longo dos últimos meses. E um desdobrável mostrará, com imagens e textos inéditos, esse mundo por conhecer desta escritora cujos textos regorgitam de imagens.
Esperamos por todos em Sintra nesse sábado, para a última sessão da «Letra E» antes das férias de Verão.

7.6.15

«O MUNDO EXISTE, E O VERGÍLIO MORREU...»

(Caderno 1.45, p. 53, em 5 de Setembro 1996)

«O que está feito, está feito. Não acharei, no entanto, estranho se, nas noites de chuva, muitos virem um funâmbulo aéreo a dar-lhes fé no conhecer, e no facto nu e incompreensível de ser-se humano – homem e mulher.» (M. G. Llansol, Inquérito às Quatro Confidências).
Foi o final da leitura de ontem na «Letra E».  A relação breve,  mas  intensa e  de uma tensão produtiva entre Maria Gabriela Llansol e Vergílio Ferreira, de 1988 a 1996, trouxe ontem ao nosso Espaço momentos significativos de reflexão, debate e leitura que iluminaram mais um «encontro im-provável» – porque as suas motivações não têm prova, ou não precisam dela, e também porque são pouco comuns encontros como este, entre escritores desta estatura. Um encontro que foi ao mesmo tempo um dos muitos exemplos possíveis das «afinidades electivas» no percurso de escrita e vida de Maria Gabriela Llansol, que tantas vezes já temos abordado na «Letra E».

Almoço nas Azenhas-do-Mar, 1991

O tema foi apresentado e amplamente comentado por Bruno Béu, investigador da área da Filosofia e da Literatura (e também músico), que defendeu em 2012 uma tese de doutoramento sobre «Interrogatividade e apofatismo no pensamento de Vergílio Ferreira» e nos falou dos encontros e desencontros entre estes dois nomes maiores da literatura portuguesa contemporânea, sob o signo do  Nem, que remete para os posicionamentos antidogmáticos de ambos – nem isto nem aquilo, mas também isto e aquilo, que tanto pode ser o uso do fragmento ou da suspensão do fio do pensar como os «momentos líricos» da linguagem ou a relação tensional entre real e irreal, entre o mental e o «místico», entre o humanismo e o pós-humanismo.

Manuscritos de Vergílio Ferreira no espólio de Llansol
(Notas sobre Lisboaleipzig e bilhete por altura da Europália, em Bruxelas, 1990)

Bruno Béu interrogou-se ainda detalhadamente sobre as razões e os sentidos do epíteto de «companheiro filosófico» que Llansol encontra para Vergílio Ferreira, trazendo à discussão autores e problemas que a ambos interessaram, com particular destaque para a problemática do Ser e do «enigma do mundo», que atravessa vários momentos do diário de Llansol Inquérito às Quatro Confidências, a partir de conversas sobre o «Poema» de Parménides, de Levinas ou de María Zambrano. Mas também com referência ao gesto essencialmente «antifilosófico» de ambos, que os leva a privilegiar o espanto e a interrogação face ao real – com saídas diferentes e registos de escrita diversos.

Algumas das dedicatórias de Vergílio Ferreira a Gabriela e Augusto


O debate foi vivo e diversificado. E a leitura final de excertos de Inquérito às Quatro Confidências permitiu compreender ainda melhor as vias cruzadas deste «encontro inesperado do diverso». Mostrámos peças do espólio de Llansol que, para além dos cadernos, agendas e diários em que Vergílio  aparece com frequência, incluem também muitos livros deste autor com dedicatórias especiais, manuscritos e bilhetinhos, e fotografias dos encontros que nos anos noventa eram frequentes, entre Paris e Bruxelas, Colares, Fontanelas e as Azenhas-do-Mar. E uma vez mais tudo isto está documentado no «Caderno da Letra E» intitulado O «Companheiro filosófico». Vergílio Ferreira e Llansol.



1.6.15

O «COMPANHEIRO FILOSÓFICO»
NA «LETRA E»


No próximo sábado, dia 6, às 16 horas, a «Letra E» do Espaço Llansol recebe Vergílio Ferreira, que entrará em diálogo com Llansol através da apresentação de Bruno Béu, especial conhecedor da Obra do autor de Aparição, que na sua Conta-Corrente, particularmente no início dos anos noventa, escreve frequentemente sobre a Obra e a figura de Llansol. Gabriela, por sua vez, dedica-lhe o terceiro diário, Inquérito às Quatro Confidências, onde Vergílio surge como «o mais jovem» e o «companheiro filosófico».


Bruno Béu falará desta relação breve mas intensa, e haverá um caderno que a documenta extensamente (no caso de Llansol, desde os anos sessenta). A abri-lo, um texto de Eduardo Prado Coelho em que se relacionam os dois à luz do encontro entre Filosofia e Literatura, e onde podemos ler: «Não é muito frequente dois grandes escritores encontrarem-se. O costume é terem-se encontrado antes de serem grandes escritores (...) Mas, no caso de Vergílio e de Maria Gabriela, podemos dizer que eles, para além do circunstancial, começam por se encontrar na delegação mútua dos seus próprios textos: Maria Gabriela admira os textos de Vergílio, Vergílio deixa-se intrigar e fascinar pelos textos de Maria Gabriela.»
Esperamos por todos na «Letra E», para mais esta sessão de «Afinidades electivas».

DA MORTE LIVRE
Entre Llansol e o «Diário do dia seguinte» na «Letra E»

No domingo, 31 de Maio, a «Letra E» encheu-se uma vez mais, e a tarde prolongou-se com a apresentação do livro de João Barrento Como um Hiato na Respiração. Diário do dia seguinte (uma edição da Averno) e de um pequeno «Caderno da Letra E» com fragmentos de M. G. Llansol sobre a sua experiência escrita da morte, que subsumimos no título «A Viagem Infinita».
O poeta Manuel de Freitas, aqui na sua qualidade de editor, falou brevemente deste novo título, e Rui Chafes, um escultor muito próximo, quer de Llansol quer do autor do diário, quer da temática abordada dialogou com este a propósito de questões centrais do livro, particularmente a da noção-chave que o atravessa, o conceito de «morte livre». Leram-se passagens do livro a que muitas vezes respondiam fragmentos dos cadernos de Llansol, e o público presente entrou vivamente no diálogo e debate da matéria a um tempo «grave e jubilosa» (diria Llansol) que enche as páginas manuscritas e as imagens deste Diário de João Barrento, escrito ao longo de todo o ano de 2014, muitas vezes em diálogo com Llansol.
Podem ler-se a seguir os fragmentos de Llansol que compõem o novo «Caderno da Letra E», e um texto de João Barrento que resume o essencial deste seu livro.

A capa, com desenho de Catarina Domingues
(clique nas imagens para aumentar e ler)






A síntese fotográfica da sessão
(fotos de Inês Dias, João Barrento e Maria Etelvina Santos)