10.1.14

LLANSOL E OS LUGARES IMAGINÁRIOS
DA LITERATURA


O JL desta semana, inspirado no Dicionário de Lugares Imaginários de Alberto Manguel (editado cá pela Tinta da China), traz um dossier com depoimentos de vários escritores sobre o tema na literatura portuguesa e mundial. Entre esses lugares imaginários não poderiam deixar de estar os das paisagens textuais, existentes-não-reais ou reais-não-existentes, criadas por M. G. Llansol. Um deles (aliás, dois) é evocado por Hélia Correia no seu depoimento, em que diz: 

O meu lugar imaginário em Portugal tem testemunhos no real: não um, mas dois. É o «Grande Maior» de Parasceve, o livro de Maria Gabriela Llansol. O Grande Maior é um plátano em cuja copa há uma cidade. Uma cidade onde a clorofila é a cor dominante, onde está posta uma mesa de banquete, onde há praças e esplanadas «cujas cadeiras se comportam com as mesas de uma maneira absolutamente inimaginável». A escrita de Llansol que, como a sua vida, decorre no «jardim que o pensamento permite», toca nas coisas mais vulgares e transfigura-as. Se ela as olhou, não tornarão a ser as mesmas.  
O Grande Maior da Volta do Duche, em Sintra, ao qual ela fazia sempre uma saudação, tem agora uma placa evocativa. O meu lugar imaginário – onde vou muita vez ler os seus textos – é outro. É outra copa de outra árvore-cidade, outro Grande Maior. Maria Gabriela levou-me um dia, fisicamente, lá. Existia para nós e era um segredo. Como o Plátano e a sua insuspeita cidade, todos o vêem e ninguém o vê. Mas quem quiser encontra-o no seu texto.