25.11.12

DEIXÁMOS TUDO À PORTA...
Ainda o dia 24 de Novembro



O dia estava invernoso, escuro, mas nem por isso deixaram de acorrer muitos à Letra E, na data que viu nascer Maria Gabriela Llansol, e em que evocámos também a sua relação ímpar com Eduardo Prado Coelho.
A Helena concebeu uma ementa muito especial para o almoço, todos os que vieram levaram consigo uma página de caderno manuscrita, a do registo, em 1999, do «Curso de leitura silenciosa de 1931». A Hélia escreveu, para este dia, um poema, o João Madureira compôs sobre ele uma peça de música, a que chamou «Inscrição para violoncelo», a Cristiana leu o poema e o violoncelista Nelson Ferreira executou a peça, que daremos a ouvir aqui em breve.
Hoje, em eco do dia de ontem, fica o texto de Hélia Correia, inscrito sobre o «testamento de Ana de Peñalosa», que compunha o centro da nossa mesa. O poema fala do testemunho e da sua passagem, tal como o entendemos e praticamos______:
ensinar, dar testemunho por escrito, compôr música
para quebrar o saber, levá-la à soleira da porta
para que ela receba o sol,
são actos de amor.
(M. G. Llansol, Os Cantores de Leitura)




A relação ímpar

A evocação da relação de Eduardo Prado Coelho com Maria Gabriela Llansol contou com a presença de Maria Manuel Viana, sua companheira nos últimos tempos de vida, e de Margarida Lages, que com ele colaborou longos anos, em Paris e Lisboa, e que é actualmente responsável pela edição das suas Obras na Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Margarida Lages deu-nos uma montagem de textos composta, em diálogo e com a sua própria mediação (no papel do «intruso»), com fragmentos de Llansol e Eduardo Prado Coelho; e Maria Manuel Viana leu o texto que o Eduardo escreveu sobre «A rapariga que temia a impostura da língua».
Em seguida, João Barrento comentou esta relação triplamente ímpar: relação rara, de homem-de-escrita a ser-de-escrita; relação de admiração e humildade entre «falcão» e «papagaio de papel» (a comparação surge no Diário II de Eduardo Prado Coelho) e relação de «amor ímpar», frontal, aqui e ali em leve tensão, nunca tíbia, sempre «sem impostura».

A correspondência entre ambos (a partir já de 1978) testemunha esta relação, que documentámos numa exposição com o essencial dessa troca epistolar, que temos no espólio de Llansol. E a escrita crítica e ensaística de Eduardo Prado Coelho sobre textos de M. G. Llansol – também exposta através da reprodução das páginas dos jornais onde foi acontecendo – mostra à evidência, e sem disparidades de crónica para crónica, de crítica a crítica, como Eduardo Prado Coelho consegue, ao longo de décadas e em cerca de vinte textos sobre livros de Llansol, manter uma capacidade única de, num mesmo «lance do verbo», captar a essência do livro e lançá-lo para o futuro – porque, é claro, sempre reconheceu futuro a esses livros.

A sua intervenção crítica sobre os livros de Llansol pode, assim, funcionar como um guia de leitura para todo esse texto. Quer no que se refere aos núcleos mais cintilantes de cada livro, quer também ao seu lugar relativo na literatura portuguesa contemporânea. Deste modo, cada crítica de Eduardo Prado Coelho ilumina e ao mesmo tempo alarga o seu objecto, nunca escondendo o seu deslumbramento, nunca deixando de afirmar a sua aposta incondicional na Obra de Llansol – uma Obra que, como lemos numa das suas crónicas, «resiste contra a facilidade, o vivido esparramado, o pós-moderno ladino, a leviandade de certos leitores, as grandes manobras da prosa, a crítica-flash, etc.». E Llansol parece responder-lhe, ao anotar na página de rosto do livro de Prado Coelho O Cálculo das Sombras: «É o mais lento que vai à frente [...] O que calculam as sombras? Uma sombra maior dentro da luz».
A «sombra maior dentro da luz» é uma bela imagem para a «conjectura grave e jubilosa» que é cada texto de Llansol. Passa-se sempre por essas sombras para entrar na sua luz. E não há nisso mistério, nem dificuldade especial nesse caminho. Ou, como escreve o Eduardo: «não há segredo, o único segredo é entrar».


24.11.12

MARIA GABRIELA LLANSOL
24 de Novembro de 1931




19.11.12

EDUARDO PRADO COELHO 
E MARIA GABRIELA LLANSOL
NA «LETRA E»

No próximo sábado, dia 24, como sempre às 17 horas, vamos evocar a relação ímpar de Maria Gabriela Llansol com Eduardo Prado Coelho, na sequência do colóquio em que este foi homenageado nos passados dias 15 e 16, na Fundação Gulbenkian.
Teremos entre nós a Alexandra Prado Coelho, filha do Eduardo, a Maria Manuel Viana, sua última companheira, e a Margarida Lages, que trabalhou com ele largos anos e é responsável pela nova edição das suas obras, em curso de publicação na Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
O programa da sessão – e também da que se lhe seguirá, em 8 de Dezembro – pode ver-se clicando na imagem.


Por outro lado, 24 de Novembro é um dia muito especial na casa de Llansol, por ser o do seu aniversário, aquele que a viu nascer, «em 1931, no decurso da leitura silenciosa de um poema», por entre «as páginas que os leitores haveriam de tocar (como a uma pauta de música)». Por isso, começaremos por evocá-la, ouvindo a sua própria voz num dos últimos encontros que tivemos, em 2006, na «Casa da Saudação» em Colares. E ouviremos também um poema de Hélia Correia – «Poema para Maria Gabriela (24 de Novembro de 2012)» –, que o compositor João Madureira musicou. A sua peça, intitulada «Inscrição para violoncelo», será executada pelo violoncelista Nelson Ferreira.

13.11.12

O ESPAÇO LLANSOL, OS EQUÍVOCOS 
DO «MAL DE ARQUIVO» E OUTROS MALES



Andam espectros pela Net. Boatos, calúnias infundadas, difamações de baixo nível, insinuações cobardes. Muita ignorância e petulância. Vem acontecendo há mais de um ano, por vozes oriundas do outro lado do mar, através de um blogue com um título enganador, retirado de um texto de Maria Gabriela Llansol, cuja Obra vem, há anos, sendo despudoradamente saqueada, instrumentalizada e banalizada por pretensos «escritores» d' O Fio de Água do Texto – assim se chama o sítio, ele sim, um verdadeiro arquivo do mal (hélas! não se pode fugir ao arquivo!) que sistematicamente destila veneno, a pretexto de «declarações de amor» (!) a Maria Gabriela Llansol, ela mesma, e de umas «Conversas com Llansol» e outras inimagináveis e delirantes manifestações de kitsch e má fé. E assim o fio de água alimentado a partir de Belo Horizonte se transforma na água suja onde «poetas» e «artistas» vazam os seus delírios pessoais, as suas frustrações e a sua raiva (por não poderem apropriar-se como desejariam do texto de Llansol nos seus territórios), a sua prosa ou poesia extática, de olhos em alvo (que confundem com escrita viva, autêntica, «inspirada» em Llansol: temos muitos testemunhos desses, enviados à autora, nos nossos «arquivos do mal»!) E depois vêm as críticas esfarrapadas, redutoras e parciais a livros cujo alcance não alcançam. E caem sobre nós as ladainhas que transformam esse texto em objecto de adoração acrítica, provinciana, de um mimetismo primário que só mostra a incapacidade de pensar esta Obra por parte de quem assim rabisca sobre ela meros derrames emocionais, e sobre o Espaço Llansol lança a peçonha da inveja e da provocação permanente. E nem a pobre Melissa, a gata que foi de Maria Gabriela Llansol e continua a viver feliz, escapa às torpes invectivas. Ataques onde se ouvem, não apenas insultos pessoais, mas também o denegrir sistemático do trabalho que vimos fazendo e, com isso, da memória de Llansol, que no-lo confiou – até ao limite da xenofobia explícita, quando nos apontam como parte de «portugais morrendo à míngua», a nós, que estamos, com Llansol, claramente à margem dessas portugalidades! Naturalmente, tudo em vão. Desiludam-se, o nosso caminho está traçado, aqueles que prezamos e realmente contam estão connosco, e nada vai alterar a nossa rota! Chegou o momento de revelar à opinião pública portuguesa (e também brasileira), que conhece e tem reconhecido o trabalho do Espaço Llansol, a dimensão absurda do que está a acontecer. 

A última fase do pasquim digital O Fio de água do texto ocupa-se do «mal de arquivo». A expressão, como se sabe, foi usada por Jacques Derrida, no livro Mal d'archive. Une impréssion freudienne, que derivou de uma conferência em Londres, em 5 de Junho de 1994, num colóquio sobre o tema «Memory: The Question of Archives». O Espaço Llansol seria agora, para os «dez» do Fio de água... e seus seguidores cegos, a encarnação perfeita desse mal. Uma vez mais, como acontece quando manipulam o texto de Llansol, descontextualiza-se para atacar e denegrir. No «grupo dos dez», a mestra dá o mote e seguem-se as glosas dos acólitos, imitando cegamente... Sejamos então didácticos, para esclarecer esse tão mal tratado «mal de arquivo», mal necessário, e exigente de um rigor que eles não conhecem, que praticamos em tudo o que fazemos, na «Letra E», a da alegria e da beleza partilhadas, e na "Letra F", a do dito arquivo – que, de facto, o não é, mas eles não sabem, porque nunca o quiseram conhecer. A única vez que o fizeram, de forma superficial, ligeira, como em tudo o que fazem, e já mal intencionada, foi para produzir um objecto inenarrável de mau gosto e de ilegalidade, um livro que usa abusivamente o nome de Llansol e os seus textos, e os enfeita com uns «bonecos» a que chamam arte...

Mas anotemos duas ou três coisas, para que fiquem claras algumas confusões e a manipulação perversa do «mal de arquivo» (que anda neste lugar do ciberespaço para continuar o bombardeamento venenoso contra o Espaço Llansol), duas ou três coisas à l'adresse dos discípulos directos, dilectos e incompletos de Freud e Derrida.  Na etimologia do arquivo (arkhé) estão sempre duas coisas: o começo (a origem) e a ordem (a autoridade). Quando se entra no espaço do arquivo (cujo fascínio só aqueles que nunca lá estiveram podem denegrir, por ressentimento) sem a pretensão – que é a dos curadores da psique – de ser arconte, autoridade, então escolhe-se! Pode escolher-se. Ou seja: a busca da origem, a vontade de trazer à luz alguns revérberos dela, não é necessariamente autoritária. Como o «pharmakon» platónico, comentado também pelo autor de Mal d'archive, na sua duplicidade produtiva de veneno e remédio, de mal e cura, que gera a conhecida «indecidibilidade» desconstrucionista. Será que eles percebem que não há maniqueísmo nestas coisas, que o próprio Derrida (e muito antes dele Nietzsche) acabou há muito com os binarismos simplistas? 

Derrida assiste-nos claramente neste aspecto, ao afirmar que não há meta-arquivo. E mais: «Só se pode iluminar, ler, interpretar uma herança inscrevendo-a irredutivelmente no futuro». É o que estamos a fazer. Mais diz Derrida nesse treslido texto sobre o «mal de arquivo» (que não é maléfico nem diabólico, é uma febre, um entusiasmo!): «Guardar um arquivo, algo que ordena a memória e antecipa o por-vir, impõe também dar morte ao arconte e a tudo aquilo que, na tradição, sustenta a lei». Nesse texto, Derrida caminha progressivamente no sentido de dar razão de ser ao trabalho de «arquivo» que vimos fazendo. Trabalho que não é apenas de arquivo, porque acontece no espaço vivo, originário, do objecto único desse «arquivo», a Obra de Maria Gabriela Llansol, que não é «senhora» de coisa nenhuma – como escreve a menina «j.», o olho dos «dez» nas nossas últimas Jornadas de Sintra –, mas uma presença constante e dialogante para nós! Aquele nome amputado, que não tem coragem de se mostrar inteiro, é o da cobarde assinatura, trace envergonhada de quem tem medo, mas não vergonha do que escreve sem fundamento, que nunca conheceu aquela a quem chama «senhora» disto e daquilo, e que também nada parece saber daqueles que agora não são cães de «guarda», como diz e repete, mas cuidam de manter vivo o nome e o texto dessa a quem insiste em chamar «senhora», ignorando como ela detestaria ser chamada assim

Enfim, Derrida liberta-nos do mal de arquivo que atormentava Freud, quando escreve: «Pelo encontro com os espectros, regressa fragmento a fragmento, uma semente de verdade indestrutível, irredutível». Os nossos «espectros» são desta estirpe. Não almejamos qualquer espécie de «poder» – ideia totalmente absurda que a menina «j.» desfia como um autómato que ecoa «his master's voice» – pelo facto de organizar e tratar um espólio, apenas vamos dando a conhecer o que não era conhecido, e que toda a gente (menos os «dez» do ressentimento) reconhece como original e revelador. E que, quer se queira quer não, é diferente do conhecido, não anulando, obviamente, aquilo que conhecemos dos livros de Llansol. Só quem seja maldosamente ingénuo, ou ignorante destas coisas, menina «j.» &  Cia., pode vir acusar-nos de pretender «mamar» no texto de Llansol, de andar a «brincar de papai, mamãe e filhinha» na casa que foi dela (nós também lemos Deleuze, e muitos mais, que para vocês são terra incógnita), de sermos «tradutores sem fulgor», «cretinos que se escondem atrás de outros cretinos», de querermos «a glória do texto e a sua possessão», de «ter a fúria e o desejo de posse estampado no rosto»! E que presunção, que desplante esse, menina «j.», de chamar estúpidos aos «senhores» e «senhoras» de Sintra que, coitados, não percebem o que «está fazendo muito mal a eles»! Já apanhaste o tique da análise? Queres deitar-nos no divã?

A questão — e a expressão «mal de arquivo», que substitui no livro de Derrida a de «conceito de arquivo» da sua conferência original – é a de toda a ciência moderna, de todo o mundo contemporâneo, que passou do paradigma do conceito para o do arquivo, «gramatizou» o vivo, foi capaz de criar desejo com a técnica (é possível, como é possível criar vida a partir do arquivo – para perceberem isto, leiam por exemplo Bernard Stiegler, esses que não saem de Lacan e Blanchot e Blanchot e Lacan, coitados, que não têm culpa, e que às vezes devem dar voltas no túmulo!). Querer diabolizar o arquivo, de forma simplista, é sinal de pura ignorância, é não entender Derrida, manipulando-o para proveito próprio, como sempre fazem os imitadores de pacotilha, os epígonos e os denunciantes. Derrida, o do «mal de arquivo», já lhes disse isso – mas eles não ouvem, ou não sabem ler!

João Barrento,

com:
Hélia Correia (escritora, Espaço Llansol), Manuel Gusmão (escritor, Espaço Llansol), Maria Etelvina Santos (Investigadora, Espaço Llansol), Cristiana Vasconcelos Rodrigues (Professora da Universidade Aberta, Espaço Llansol), Helena Vieira (editora, Espaço Llansol), Albertina Pena (professora, Espaço Llansol), Sandra Santos (distribuidora de livros, Espaço Llansol), Daniela Jones Oliveira (professora, Espaço Llansol) 
e
Alfredo Ferreira dos Santos (aposentado, Carcavelos) | Ana Luísa Amaral (escritora e Professora catedrática da Faculdade de Letras do Porto) | Ana Maria Pereirinha (editora) | André Lamas Leite (advogado, Professor da Faculdade de Direito da Universidade do Porto) | Ângela Nobre (economista) | António Guerreiro (crítico literário) | Carla Faria (professora) | Carlos Couto Sequeira Costa (Filósofo, Professor da Faculdade de Letras de Lisboa) | Cândida Joaquim (Linguista) | Carolina Leite (editora, Pagine d'arte, Suíça) | Catarina Barros (livreira) | Celina Martins (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade da Madeira) | Cristina Isabel de Melo (tradutora e editora, Bretanha) | Cristina Maria Veora (jornalista e escritora) | Emília Reis (bancária, aposentada) |  Fernanda Gil Costa (Professora catedrática da Faculdade de Letras de Lisboa) | Filipa Melo (jornalista e escritora) | Graça Martins (pintora) | Helena Buescu (Professora catedrática da Faculdade de Letras de Lisboa) | Ilda David (pintora) | Ilse Pollack (escritora, Viena) | Isabel Allegro de Magalhães (Professora catedrática jubilada da Universidade Nova de Lisboa) | Isabel Cristina Mateus (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade do Minho) | Isabel Santiago (professora de Filosofia) | Jaime Rocha (escritor) | João de Oliveira Cachado (professor, Sintra) | João Madureira (compositor) | Joaquim Costa Almeida (fotógrafo) | Jorge Fernandes da Silveira (Professor titular de Literatura Portuguesa, Universidade Federal do Rio de Janeiro) | Joel de Carvalho (professor de Educação Física) | Jorge Leandro Rosa (Professor da Universidade Lusófona, Lisboa) | Jorge Telles de Menezes (escritor, editor da revista «Selene-Culturas de Sintra») | José Manuel Mendes (Presidente da Associação Portuguesa de Escritores) | José Manuel de Vasconcelos (advogado e escritor) | José Santos Maia (artista plástico) | Júlia Studart (professora e escritora, Rio de Janeiro) | Luci Ruas (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade Federal do Rio de Janeiro) |Manoel Ricardo de Lima (escritor e Professor da UniRio, Rio de Janeiro) | Manuel Rosa (editor) | Manuela Parreira da Silva (Professora de Literatura Portuguesa da Universidade Nova de Lisboa, escritora) | Margarida Lages (IPAD, responsável pela edição das Obras de Eduardo Prado Coelho na INCM) | Maria Helena Guerreiro Alves (Recursos Humanos EDP, aposentada) | Maria João Reynaud (Professora de Literatura Portuguesa, Faculdade de Letras do Porto) | Maria de Lourdes Soares (Professora aposentada de Literatura Portuguesa, Universidade Federal do Rio de Janeiro) | Maria Madalena Fernandes (socióloga) | Maria Manuel Viana (escritora e professora) | Maria Paula Mendes Coelho (Professora da Universidade Aberta) | Matteo Bianchi (editor, Pagine d'arte, Suíça) | Mayara Ribeiro Guimarães (professora, Universidade Federal do Pará) | Paola Poma (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade de São Paulo-USP) | Paula Cristina Costa (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade Nova de Lisboa) | Paula Ruella (investigadora, História da Arte) | Ramón Parra Ibañez (estudante) | Rosa Alice Branco (escritora) | Sandra Varela (professora) | Sílvia Salgueiro (cineasta, Californian Institute of the Arts) | Sõnia Piteri (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade Estadual de S. Paulo-UNESP) | Teresa Belo (professora, aposentada) | Teresa Cadete (Presidente do PEN Clube Português, escritora e Professora da Faculdade de Letras de Lisboa) | Winnie Wouters (doutoranda, Universidade Estadual de S. Paulo-UNESP)

9.11.12

FILMES LLANSOLIANOS NA ALMA AZUL, 
EM COIMBRA

Integrada nos Caminhos do Cinema Português, a Alma Azul (Produtora de Actividades Culturais: http://www.alma-azul.pt) promove no próximo domingo, dia 11 de Novembro, às 17 horas, na Galeria Santa Clara, em Coimbra, uma sessão de divulgação dos filmes de Daniel Ribeiro Duarte sobre a Obra de Maria Gabriela Llansol.

 
A projecção dos documentários Hölder, Encontro com S. João da Cruz, Conversações com Bento e Ao Lugar de Herbais, todos de Daniel Ribeiro Duarte, cineasta brasileiro, doutorando em Ciências da Comunicação, com  especialidade em cinema, na Universidade Nova de Lisboa, é o programa dos «Caminhos do Cinema Português», na Galeria Santa Clara.


No fim da projecção realiza-se uma conversa-debate sobre a Obra de Maria Gabriela Llansol, moderada por Elsa Ligeiro, da Alma Azul, em que participam o autor dos filmes e Cláudia Ferreira, licenciada em História da Arte, e leitora de Llansol. Estarão ainda presentes João Barrento e Maria Etelvina Santos, do Espaço Llansol.
Recorde-se que a Alma Azul tem promovido, desde o Festival de Língua Portuguesa – A Língua Toda, em 2009, diversas sessões sobre a Obra de Maria Gabriela Llansol.

4.11.12

UMA TARDE DE IMAGENS NA «LETRA E»


Foi uma tarde de imagens, desta vez com muitos estudantes e professores de Belas-Artes, de Cinema, e de Llansol, como sempre. O ruído sussurrante do projector e o silêncio das cenas alternantes do filme de Tomás Maia e André Maranha, Éden. O filme desta Terra (película, cor, 16 mm, 27'). O movimento tremulante da película contrasta com os gestos claros e decididos de Eva e Adão, mulher e homem, homem e mulher, pés nus, destruindo e construindo, transformando e fixando formas, fogo e terra, casa e túmulo, a língua livre da mulher e os gestos codificados do homem.


Isabel Santiago, professora de Filosofia e leitora de Llansol, falou disto, e de outras coisas, a propósito do livro que acompanha e ilumina o filme (Edição Documenta, com DVD). O filme da divisão incompleta, do dualismo imperfeito, seguindo a «lei da mediação» (Hölderlin) que, no filme, rege a função do tabique de separação-ligação entre dois compartimentos da casa, dois lugares de habitar, o da mulher e o do homem. O filme da saída do Éden para devir homem-mulher (e aspirar ao «ambo» de Llansol?). O filme onde se vê que, sendo cada um singular, não existe singularidade absoluta, que «habitar poeticamente esta Terra» (Hölderlin) é «viver quase a sós» (Llansol). O filme do que «está a começar» – e traz já consigo os sinais do fim: nascimento e morte, nascimento é morte, «o sabor a morte da vida» (Hölderlin).



É também o filme da afirmação da imanência absoluta da vida humana, «o filme desta Terra», porque no Éden não se entra, só se sai dele para nunca mais voltar – quando muito, espreita-se por uma fresta da «porta das traseiras» (H. von Kleist), no acto da criação da obra, do amor, talvez da experiência mística. É o momento do «estar eterno» (Tomás Maia/André Maranha), ou da eternidade segundo Spinoza, que fica a pairar quando se suspendem as imagens e do negro da tela ecoa, em alemão, a voz da actriz Ursula Rütt-Hamacher dizendo, com Hölderlin: «Leben ist Tod, und Tod ist auch ein Leben / A vida é morte, e a morte é também uma vida».


Foi o que se viu, se ouviu, se sentiu, no formigar da tela e no sussurro do projector, nas palavras dos que dialogaram, na tarde de ontem na «Letra E». «Tão simples são, porém, as imagens, tão sagradas, que muitas vezes realmente se teme descrevê-las» (Hölderlin). A função da «Letra E» é superar esse temor, com outros, que sempre vêm. Ontem vieram, e virão mais. «Com seriedade, de preferência», dizia Hölderlin, e assim «não cismarás por muito tempo ao sol invejoso» («Notas sobre Antígona»). Porque é preciso que se saiba (é ainda o poeta pela voz de Llansol) «que somos livres / De ir direitos ao alvo que – para nós – escolhemos», como se lê num dos poemas que ouvimos ontem, também na voz impressionante de Bruno Ganz, e que a seguir se transcreve e pode ouvir.




O curso da vida / Lebenslauf
(2ª versão)

Tu, tu também foste um sonhador de grandes coisas; mas o amor
Nos faz curvar a todos para que passemos debaixo da sua lei; a dor
         curva-nos mais para a frente ainda.
Mas, todavia, não é em vão que a órbita da nossa vida
Regressa à origem de que partiu.

Subir. Descer. Que importa? Na noite sagrada
Em que a natureza se cala para poder sonhar com os dias que hão-de vir – e

Até ao mais sinuoso e desleal dos infernos –,
Não há-de existir uma lei recta, uma justiça que reine?

É esse o fruto da minha experiência. Porque nunca deuses com imortalidade,
Defensores da vida, nunca, que eu tenha a consciência,
Me empurraram à sua frente e me levaram por caminhos fáceis,
Como é hábito fazerem os grandes deste mundo, mortais.

Os que têm trono na Imortalidade, dizem que o homem deve           
           experimentar todas as coisas,
E que, fortalecido por uma seiva pujante, deve aprender a dar graças
Por todas as coisas, e que saiba, finalmente, que ele é livre
De ir direito ao alvo que – para si – escolheu.

(Tradução de Maria Clara Salgueiro, i. é Maria Gabriela Llansol)

                                                                 [Hölderlin lido por Bruno Ganz]                     

[Fotos: fotogramas do filme e Vina Santos] 

2.11.12

AS JORNADAS LLANSOLIANAS DE SINTRA
NA RTP 2

Voltamos ainda às últimas Jornadas Llansolianas de Sintra («Pessoa e Bach na casa de Llansol»), gravadas pela TV da Universidade Aberta, e transmitidas no canal 2 da televisão pública (RTP 2), nos passados dias 31 de Outubro e 1 de Novembro. A televisão da Aberta esteve lá, gravou alguns momentos dos dois dias e registou também os depoimentos de dois dos membros da Direcção do Espaço Llansol. Pode ver-se a reportagem, clicando no link abaixo da imagem, entre o minuto 18'33'' e 22'48'' do programa: