21.5.12

A CRÓNICA DE ANNA MAGDALENA BACH NA «LETRA E»

O próximo sábado, dia 26, será dedicado na Letra E novamente a Bach, dando continuidade ao tema que escolhemos para as nossas actividades deste ano: «Pessoa e Bach na casa de Llansol». Desta vez, como sempre às 17 horas, com o filme de Jean Marie Straub e Danièle Huillet Crónica de Anna Magdalena Bach, uma obra de 1967, baseada no Necrológio de um dos filhos de Bach (Carl Philipp Emmanuel Bach) e de cartas e memórias de Johann Sebastian Bach. O filme de Straub/Huillet, que conta com intérpretes conhecidos no mundo musical, como Gustav Leonhardt (J. S. Bach) e Christiane Lang (Anna Magdalena), não usa a música de Bach como mero acompanhamento, mas como o próprio material estético do filme.
Bach é uma das figuras que, com outros que gravitam à sua volta em Leipzig (Anna Magdalena, os filhos, em particular Elisabeth, Baruch Spinoza e o próprio Fernando Pessoa, agora rebaptizado Aossê) ocupa Llansol durante um longo período de quinze anos. 
Num dos cadernos da fase de Herbais, ainda no começo da escrita dessa originalíssima «saga poético-filosófico-musical» que haveria de chamar-se Lisboaleipzig, Llansol escreve sobre Anna Magdalena, Bach e Aossê:


Anoitece. Bach acendeu a vela, um dos seus filhos voltou-lhe a página, a solidão acumulou-se subitamente sobre eles quando Anna Magdalena anunciou pela primeira vez o jantar, gritando com a sua voz musical de longe, da cozinha. A Aossê pareceu um pregão, que o confinou num devaneio e numa sonolência profunda. A música não acordava da palavra, a palavra transmitida por Aossê absorvia J. S. Bach de tal modo que mandou ao filho, de pé atrás dele, que os deixasse. Cruzaram-se os olhos de ambos, as fontes de onde vinham seus caminhos, os conluios das crianças pelos cantos, e o sentimento de que as portas daquela noite estavam abertas sobre outro domínio, ou perspectiva de mundo.

Algumas destas muitas páginas em torno da música, da poesia, do amor e do contrato universal dos seres na casa dos Bach em Leipzig, saídas dos cadernos manuscritos de Llansol, poderão ler-se nos expositores. O filme será apresentado por Daniel Ribeiro Duarte, que é doutorando em cinema na Universidade Nova de Lisboa e colabora desde 2009 com o Espaço Llansol.