26.2.12

AS ARTES DA FUGA NA «LETRA E»

A sessão de ontem na «Letra E» do Espaço Llansol foi preenchida com a gravação, pela Rádio Televisão Portuguesa, do concerto de uma peça original do compositor João Madureira«ECO, ou Bach em Pessoa» –, que fez uma orquestração muito particular da Arte da Fuga de Bach, integrando na orquestra um amplo naipe de instrumentos, alguns inesperados, e associando à música um conjunto de fragmentos de poemas de Fernando Pessoa e seus heterónimos, ditos por um actor.
João Madureira comentou a peça antes de mostrar o vídeo do concerto, salientando, a par de várias formas de construção da fuga, a sua visão de Bach, do universo Pessoa e da escrita de si e do mundo por M. G. Llansol como um todo em que o rigor arquitectónico ou quase matemático das escritas se não separa de um substrato, diverso e reverberante, de teor emocional ou libidinal, mesmo nos exercícios aparentemente mais racionais de um Bach já moderno, ou na construção intelectual de um «mental pairante» como Pessoa (em versão Llansol).


A sessão abriu com leitura de excertos de Llansol sobre Aossê e Bach, e prolongou-se, depois do visionamento do concerto, com uma demorada e muito viva discussão com o público, centrada sobretudo nos modos diversos e afins da orquestração tensional do Eu nestes três criadores, numa dialéctica aberta entre a distanciação e a obsessão de si. Três modos particulares de uma «arte da fuga» do Eu, mas sempre a partir de si próprio.
Para assinalar o início de actividades em torno do tema do ano – «Pessoa e Bach na casa de Llansol» –, expusémos uma sequência de páginas de cadernos manuscritos e de dactiloscritos inéditos de Maria Gabriela Llansol, contendo momentos de escrita surpreendentes sobre a figura de Aossê em Leipzig.
 E saímos eram já oito horas da noite____________