27.11.11

O ESPÓLIO MANUSCRITO DE M. G. LLANSOL
Todos os números e dados

O espólio manuscrito de Maria Gabriela Llansol, digitalizado e disponível desde 2009 (a primeira séria dos cadernos), tem vindo a ser consultado por investigadores nacionais e estrangeiros interessados em ampliar o espaço de pesquisa da Obra de Llansol para além dos livros publicados. Logo em Abril de 2008, divulgámos o inventário provisório, ainda incompleto, do espólio manuscrito, com referência apenas ao número de objectos literários encontrados (cerca de 350). Em Maio desse ano apresentámos o quadro do sistema de classificação de todo o espólio, e meio ano depois, em Maio de 2009, divulgámos as normas de utilização do espólio e disponibilizámos para consulta toda a primeira série dos cadernos manuscritos (76), em formato PDF, num total de 17.541 páginas, cobrindo os anos de 1974 a 2006. E anunciámos a disponibilização, para daí a pouco tempo, do complemento desse primeiro núcleo de cadernos, com os 78 cadernos do segundo núcleo (1969-2008), 53 agendas (1962-2007), 12 blocos de notas e muitas centenas de papéis avulsos (neste momento também disponíveis, em número de 904).
Desde 2009, toda esta parte, a mais substancial do espólio literário, tem sido utilizada, quer pelos colaboradores mais directos do Espaço Llansol, quer pelos investigadores que, por períodos mais ou menos longos, aí têm trabalhado e manuseado toda esta massa de textos nos computadores disponíveis.
Para orientar de forma mais precisa todos aqueles que desejem continuar a pesquisar neste imenso espólio, deixamos aqui os quadros descritivos pormenorizados que elaborámos, e que poderão servir de primeiro guia a todos os interessados. 
Em breve forneceremos os quadros descritivos de todos os artigos de Llansol e sobre a sua Obra publicados na imprensa portuguesa e estrangeira, e logo que possível, em sítio próprio, os textos completos saídos nesses jornais e revistas. 

(Clique nas imagens para ler os quadros)
 

MUSIL E LLANSOL

No próximo dia 6 de Dezembro, pelas 18h30, João Barrento faz na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, uma conferência sobre Robert Musil e a sua obra maior, O Homem sem Qualidades, integrada no ciclo «Livros difíceis», por onde passaram já, desde Fevereiro, Proust (a Recherche, por Pedro Tamen), Virginia Woolf (Orlando, por Lídia Jorge), Camões (Os Lusíadas, por Vasco Graça Moura) e Thomas Mann (A Montanha Mágica, por José Pacheco Pereira).

Damos notícia da conferência sobre Musil porque nela se falará também muito de Llansol, a escritora portuguesa que mais explicitamente traz o autor austríaco à sua própria Obra. Por exemplo em Um Falcão no Punho:
Musil passou agora numa das três ruas de Herbais. O seu perfil não é muito nítido, oscila entre os dois únicos retratos que dele conheço – um de quando era muito jovem, outro de muito mais tarde. A presença de Musil em Herbais, lugar que não é o centro de nenhum mundo culturalmente criado, e que aos olhos ensinantes de muitas pessoas deve passar por um não lugar, é uma das compensações que tenho pela morte da minha gata Branca que também não era um animal que se deixasse domesticar pelas imagens de saber que correm pela história natural. [...] Musil e eu interessamo-nos pelo pensamento que se desenvolve e suspende na escrita; a literatura, como comércio, abandonámo-la neste cruzar de prados onde nos encontrámos por uma circunstância fortuita — a morte de Branca. [...] Liga-nos a aquiescência de que almejar com a escrita não é o mesmo que esbanjar no vazio a palavra. Não sei se a minha casa, com marcas minhas, agrada ao meu hóspede, e mostro-lhe os espaços que prefiro para que ele não os pise. No entanto, não devemos recear mutuamente as vertigens da ressonância. Por causa desta aliança, Herbais ficará sempre alheada dos cálculos que subjugam o mundo conhecido.
E em «O Espaço Edénico»:
Kafka e Musil foram levados a repensar o livre arbítrio na estética, como podia este exercer-se sem se perder na alucinação do agir. Era para eles impensável que o fascínio, que está do lado do «luminoso», não desencadeasse um processo intelectivo, reflexivo, que o pensamento não se debruçasse sobre a experiência estética da alma. [...] Poucos foram sensíveis ao facto de que o intento mais profundo de Musil era encontrar cenas fulgor.

24.11.11

OS DIAS DE NOVEMBRO
Nos oitenta anos de Maria Gabriela Llansol

Hoje «faria anos de viva...», como a avó Maria, também nascida em Novembro. Quase nunca escreveu nos cadernos no dia do seu nascimento para a vida, 24 desse mês. A não ser para os livros que iam nascendo, nascendo de si à distância de si. Mas no ano dos cinquenta anos, 1981, o caderno 1.11 dá-nos a ler, em «fins de Novembro», esta passagem que seria acolhida, com variantes, em Um Falcão no Punho:

A minha vida modificou-se, e o meu texto também. Creio que vou passar a escrever sem esmorecimento, do ponto de vista de Herbais. Há um segundo, um terceiro, um quarto, um quinto mundo, que poderá traduzir o mundo luzente, o mundo fulgurante, o mundo desconhecido, o mundo tenaz, o mundo tonitroante. Mas agora parece-me que deslizo para dentro do mundo mais simples, aquele em que eu própria me vejo como figura nesta época e, no entanto, como figurante. O tempo é o actual e a realidade não tem espessura, foi abandonada pelas cenas fulgor que eram o seu volume; esta é a vida quotidiana dos deuses, de quem falo com conhecimento de causa, sem já ter qualquer razão para abandoná-los. Ainda bem que ninguém me chama, me louva, corresponde ao desejo primário com que eu teria vivido, identificando-me a um pássaro de plumas. Neste aquário de silêncio, eu, tecido de peixe vermelho, sigo a corrente que me propõe mudar de quotidiano.

Morte, desolação dos homens, compaixão, parece-me que vejo continuamente a parte padecente do mundo, e um fio de alegria distante...  (Caderno 1.11, pp. 233-234, Novembro de 1981).

Herbais, anos 80


Neste ano em que se assinalam os seus oitenta anos recolhemos, como dádiva do dia para quem nos leia, uma outra página, mais tardia, de um dos dossiers dactiloscritos. Nela se concentra o que de essencial há na escrita e no pensamento de M. G. Llansol: o fulgor da Ideia, a serenidade da sensualidade e o esbater das fronteiras entre o sensível e o inteligível:

Se eu tivesse uma única expressão, com sentido perfeito, para dizer a H., dir-lhe-ia: traz-me apenas o pó dourado de tudo o que se concebe; e se eu tivesse apenas uma outra, sem precedentes, para dizer a A., dir-lhe-ia: a sensualidade a que aspiramos tem a sua parte de contemplação e de repouso; e se eu estivesse face ao homem, terceiro e último elo, e o mais forte, dir-lhe-ia: a sensibilidade não se pensa, embora faça parte do pensamento. (Dossier dactiloscrito nº 8, p. 812, 1988?).
E deixamos algumas imagens e sons que Llansol gostaria de ver e ouvir, uma vez mais:

16.11.11

ECOS DE LLANSOL NO BRASIL (2)
Llansol e Hölderlin
: «Um ritmo poético fugindo...»

O video da UFFTUBE que regista a conferência de encerramento, por João Barrento, do colóquio «Um dia de fulgor», dedicado a Maria Gabriela Llansol, que teve lugar em 18 de Outubro passado na Universidade Federal Fluminense, em Niterói:

12.11.11

LLANSOL NO BRASIL: ECOS DA IMPRENSA (1)

Como já anunciámos, a Obra de Maria Gabriela Llansol começou a sair no Brasil, com chancela da Editora Autêntica, de Belo Horizonte, em edições da responsabilidade exclusiva do Espaço Llansol, detentor de todos os direitos sobre a Obra editada e inédita da autora, e que assegura a revisão e fixação definitiva do texto de todos os livros editados. A edição brasileira, que prosseguirá com outros volumes, é feita em estreita colaboração entre a Autêntica e o Espaço Llansol. A partir de agora, os livros de Maria Gabriela Llansol chegarão a um número crescente de leitores (como tem acontecido com as traduções francesas, italiana e em breve alemã) e poderá ser lido, como Llansol gostava que acontecesse, mais amplamente e de modos muito diversos.


A imprensa brasileira deu já destaque ao acontecimento, a começar pelo maior jornal de Minas Gerais, o Estado de Minas, que publicou, em 22 de Outubro, uma excelente página do jornalista João Paulo, logo depois da apresentação da caixa com os Diários e quatro entrevistas de M. G. Llansol. Esse artigo pode ler-se aqui (clique na imagem para aumentar):


Uma semana depois, nova página do mesmo jornal, no «Caderno Pensar», que pode ser lida aqui (clique na imagem):


Esperam-se ainda destaques para esta matéria em jornais de maior circulação no Brasil, de que oportunamente daremos notícia.