25.5.11

LLANSOL EM PLAQUETE DE ARTISTA

As Edizioni Rovio, de Lugano, apresentaram no passado dia 19 a quarta edição das plaquetes de artista que editam em ritmo bienal, na «Piccola biennale del nero e del bianco». As plaquetes reunem uma obra de gravura e o texto de um escritor escolhido pelo artista.
Este ano coube a vez a Flavio Paolucci, artista suíço do Ticino, que apresentou uma obra intitulada Meta-notte, inspirada na sua leitura de Il giocco della libertà dell'anima/Lo spazio edenico (publicado o ano passado pela editora Pagine d'Arte) e directamente relacionada com um fragmento de Maria Gabriela Llansol (de Um Falcão no Punho: «Nem hierarquia, nem ruptura entre corpo e alma»).
O Espaço Llansol esteve representado na exposição e no lançamento deste livro de artista, na Fondazione Diamante, em Lugano, na companhia dos nossos amigos, os editores Matteo Bianchi e Carolina Leite. Damos a seguir algumas imagens de mais esta iniciativa que projecta o nome e a Obra de Maria Gabriela Llansol no estrangeiro.

Os livros de M. G. Llansol e a plaquete de Paolucci

A exposição de Flavio Paolucci

Paolucci, Llansol, o Espaço Llansol

As plaquetes editadas

A plaquete Paolucci-Llansol

A gravura de Flavio Paolucci Meta-notte

Em conversa com Flavio Paolucci (ao centro, de preto)

João Barrento, o Prof. Ottavio Besomi, Carolina Leite, Matteo Bianchi (e Flavio Paolucci em segundo plano)

GUSMÃO E LLANSOL EM CONVERGÊNCIA



O último número da revista Colóquio-Letras (0 177, Maio-Agosto 2011) traz um artigo da professora Maria Lúcia Wiltshire, da Universidade Federal Fluminense, de Niterói (que já por duas vezes trabalhou durante meses no Espaço Llansol, pesquisando o espólio), sobre a poesia de Manuel Gusmão, nas múltiplas relações que evidencia com a Obra de Llansol. Maria Lúcia Wiltshire destaca na sua aproximação dos dois autores «três eixos»: «1º) a concepção da poesia como reinvenção do mundo em que o 'vivo' e a imagem se colocam em oposição à representatividade da metáfora, com ultrapassagem dos limites de género e da língua convencional; 2º) a forte presença da subjectividade como um processo de transformação pelo convívio estético, em que a suposta morte do eu se articula em favor da alteridade na forma de um 'outro', que tanto pode ser o leitor quanto a presença do estatuto do 'mútuo'; e 3º) o futuro e a promessa neguentrópica diante do cosmo através da textualidade para o advento de um novo humanismo. Esta tríade recobre uma visão da escrita que alia o estético, o ético e o político, compatibilizando de forma inovadora algumas tradições que são muitas vezes vistas como opostas na poesia portuguesa.»

17.5.11

«PIRANHA»: A GRANDE RAZÃO

Sobre o bailarino e performer brasileiro Wagner Schwartz (actualmente a viver e trabalhar em Paris), escrevi um dia, depois de uma memorável intervenção sua num colóquio llansoliano no Convento da Arrábida (2003), que «um texto se faz gesto e corpo desatando-lhe os nós». Wagner Schwartz (que, à letra, significa «o desafiador do negro», como eu lembrava nesse texto de 2003) regressou, de novo com uma performance a solo, a sós com o prodígio do seu corpo, intitulada «Piranha - Dramaturgia da migração», em 14 de Maio, no 13º Festival da Fábrica (de Movimentos), que decorreu no Teatro Helena Sá e Costa e no Balleteatro Auditório, no Porto.
Estão traçadas as coordenadas de mais uma performance colocada, tal como a anterior, sob o signo de uma epígrafe de Maria Gabriela Llansol, desta vez também de Finita: «Trabalhar a dura matéria, move a língua; viver quase a sós atrai, pouco a pouco, os absolutamente sós».


No novo espectáculo de Wagner Schwartz, em que «Piranha é a metáfora de um corpo em reclusão» (lemos no programa), o absolutamente só é o corpo exposto (sob um foco de luz intensa), corpo ex-posto, posto fora-de-si, corpo ex-cesso, corpo ex-tático. Presença energética e vibrátil progressivamente in-suportável, porque é prova viva da intuição de Spinoza (e, depois, também de Llansol) de que «ninguém sabe o que pode um corpo». De facto assim é. Pude constatá-lo, cheio de espanto diante do im-provável, e do medo de que aquele corpo fracassasse.
Tudo se passa num espaço de tempo de tal intensidade que parece estar fora do tempo, apesar da clara progressão no processo de tensão e busca de libertação que sustentam o espasmo contínuo do corpo sitiado. Assim o visionou também Llansol, em situação-limite, em Amigo e Amiga:
«... fragmentos que principiam a pulsar em todos os lados do meu corpo. Sucede-se uma excitação incomunicável»; e «a matéria transforma-se em energia». E, como ainda escreve Llansol, o corpo assim enclausurado no quadrado de luz (negra) que lhe é concedido, transforma-se no «emissor de um estranho de beleza».
O corpo de Wagner nesta performance é levado a zonas impensáveis (porque não alcançáveis pelo pensamento), zonas de risco, de grito, de êxtase, de revolta – e de todos os seus reversos de beleza, ali, diante dos nossos olhos incrédulos, no «desenho íntegro» daquele «corpo-risco» (como diz ainda Llansol num outro livro).


O que vemos é a materialização, num corpo absolutamente só, da violência de todos os processos de mutação, de deslocamento, de migração, forçada ou não, consciente ou não. Estamos na pura, dura, mas também bela, «escarpa da mutação», com tudo o que ela pode conter: «o medo, o frio, o transporte, o corpo dilacerado, a ideia e o sentimento súbitos, as mãos dadas e desavindas______ e todos os seus reversos» (Ardente Texto Joshua).
É este, parece-me, o tema de Piranha, de Wagner Schwartz, numa actuação fulgurante e terrível (porque, sabemos, «todo o Anjo é terrível», e o sublime participa desse terror) do seu «corpo cantante» em que um espírito se faz corpo no corpo, num corpo pleno, pura imanência com alma (a alma, lemos em Spinoza, é a ideia – indissociável – do corpo).
Mas, para chegarmos ainda mais próximo da experiência in-descritível deste espectáculo (anunciado por um breve video, só de palavras feito, como que anunciando, por contraste absoluto, a pura imagem vibrante do corpo, que se segue), para aí chegarmos desafiando os limites da palavra para vislumbrar os abismos da «fenda do desejo» (Artaud), talvez seja necessário recorrer a alguém que, como Friedrich Nietzsche, a quem Llansol chama «homem do livro» e «mestre das imagens e da eternidade» (e do saber do corpo), no Zaratustra, fala do corpo como «a grande razão». No seu transe, em trânsito para regiões a que o entendimento nunca chegará, o corpo-mente-alma de Wagner Schwartz sabe disso, conhece, sem recurso às pequenas razões, a grande razão do seu corpo que, como diz Nietzsche, se supera ao «não dizer Eu, mas fazer Eu».
Piranha é isto: um corpo assediado, bombardeado, metralhado, pelos ruídos digitais ininterruptos que traduzem a violência de uma contemporaneidade insensível, amorfa, sempre-igual e desconhecedora da grande e subtil razão do corpo e da terra e do Eu que a si mesmo se faz – desconhecendo-se. De um corpo em processo de fazer Eu que, sem nada para dizer, tudo diz: mostra-se, expõe-se, transcende-se. Faz-se corpo só, absolutamente só.

João Barrento

16.5.11

«O MUNDO É PURAMENTE ESTÉTICO...»

O Senhor de Herbais, livro-síntese de uma Obra, será objecto de análise por Cristiana Vasconcelos Rodrigues (da Direcção do Espaço Llansol e professora da Universidade Aberta) nas Segundas Jornadas de Literaturas Europeias, organizadas pelo Departamento de Humanidades da Universidade Aberta, no próximo dia 26 de Maio, pelas 15.30h, na Sala Polivalente do Taguspark (ver cartaz, clicar na imagem para aumentar).

11.5.11

LLANSOL: A LUZ DE LER NA LUZ


5.5.11

JOSÉ AUGUSTO MOURÃO

in memoriam

O José Augusto Mourão deixou-nos hoje, ao dealbar do dia. O José Augusto é alguém a quem o Espaço Llansol e a Obra de Maria Gabriela Llansol devem muito. Não apenas pelo que escreveu, mas também porque, sem a sua mediação por altura da formação do grupo de estudos llansolianos (o GELL), que nasceu em 2000, com a própria autora e Augusto Joaquim, alguns de nós, os que agora integram o Espaço Llansol, não teriam provavelmente chegado à intimidade da Maria Gabriela, nem seriam hoje os legatários do seu imenso espólio.
O José Augusto era um homem íntegro, rigoroso, parco de palavras mas generoso e profundo na discussão. Dividido, como disse um dia, «entre duas vidas», como dominicano e como universitário, foi mais nesta última qualidade que o conheci. Mas não deixei de me aproximar também um pouco da outra, durante o tempo em que as reuniões do GELL se faziam, num sábado do mês, no Convento Dominicano de Benfica. Aí, na discussão sempre muito viva, no confronto de ideias e na cordialidade do convívio o fui conhecendo melhor. E vi que havia nele a humildade de quem sabe e a intuição do não-saber, que distingue os melhores.
Solicitado por Maria João Seixas a terminar uma entrevista com uma «palavra de eleição», o José Augusto disse-a, e traçou com ela, como diria Llansol, o seu auto-retrato «grave e jubiloso». Disse simplesmente: «Alegria-triste».
Sobre a sua ligação a Maria Gabriela Llansol e ao seu texto escreveu um dia José Augusto Mourão (e lembro-me de ter ouvido essas palavras da sua boca, num dos nossos encontros):
«Sou um legente que escreve desde há uns anos já sobre Maria Gabriela Llansol com o sentimento de ter sempre vagueado por uma inextricável linha de costa, portanto sem ter a presunção de alguma vez ter chegado a um terminal de mundos, sabendo que das ruínas da biografia não se pode erguer uma estátua, temendo ademais, e como Témia, a impostura da língua, fiado apenas na 'cordialidade' do sentido (Tauler), no puro amor do 'há', na equivalência entre estética e ética, nada sabendo em definitivo, apenas entrevendo. Sabe-se que se é legente quando o júbilo de existir e o ler se tocam.»
(O Fulgor é Móvel, 189).
João Barrento

**

(«Clareira de Parasceve», Serra de Sintra, Julho de 2001)

Zé Augusto,

Estava triste o pátio da Faculdade esta manhã.

Agora, em casa, pensando em ti, no Augusto, na Maria Gabriela e na clareira de Parasceve, desejei ter as palavras certas, dizer-tas numa linguagem em que me possas ouvir. Abri o Ardente Texto Joshua, que selou muito do que nos uniu, e leio:

Ouço o ranger de uma janela a abrir-se. Tentam depois abrir outra janela, que range menos, e não abre.

Neste momento, passos breves atravessam o claustro

que é

um adro, com um cruzeiro ao centro, e cinco castanheiros dispersos.

(...) o caderno esta caído no chão, entreaberto.

Queria deixar contigo estas palavras...

Vina

3.5.11

COMUNICAÇÕES SOBRE LLANSOL

no Colóquio Interdisciplinar «Da Letra ao Imaginário», organizado pelo Centro de Estudos sobre o Imaginário Literário (CEIL) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Falam sobre M. G. Llansol:

Paula Mendes Coelho (Universidade Aberta). «La Chanson de Bilitis ou 'O Sexo de Ler' de Maria Gabriela Llansol» (Auditório I, Torre B, 9h 50)


Maria Carolina Fenati (CEIL/Espaço Llansol): «A ordem figural do quotidiano» (Auditório I, Torre B, 11h 50)



Entrada livre. O programa do Colóquio pode ser visto aqui.