20.10.10

LLANSOL EM TURIM

A tradução italiana de O Jogo da Liberdade da Alma e O Espaço Edénico, recentemente saída, será apresentada em Turim em 26 de Outubro, no âmbito do Colóquio sobre a poesia portuguesa contemporânea, organizado pela Cátedra de Literatura Portugueasa da Universidade.
João Barrento apresentará ao público italiano a Obra e o espólio de Maria Gabriela Llansol, e Maria Etelvina Santos falará do livro agora lançado em Itália. O tradutor, Alessandro Granata, dará conta dos problemas de tradução de Llansol (com uma intervenção intitulada «Il gioco della libertà del testo: tradurre Llansol») e estará presente o editor de Llansol em francês e italiano, da editora suíça Pagine d'Arte.


15.10.10

CURSO E CONFERÊNCIA SOBRE LLANSOL NO BRASIL


A nossa associada Celina Martins, professora de Literatura Comparada na Universidade da Madeira, fará uma conferência e um curso intensivo centrados n'O Livro das Comunidades, nas Universidades de São Paulo (USP) e Brasília, ao abrigo do programa de intercâmbio entre estas Universidades.
Em São Paulo, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, dia 19 de Outubro:
Conferência sobre «A travessia de São João da Cruz e Nietzsche em O Livro das Comunidades, de M. G. Llansol».
Em Brasília, no Departamento de Teoria Literária e Literaturas, dias 21 e 22 de Outubro:
Curso intensivo sobre «Poéticas de Maria Gabriela Llansol e Ana de Miranda (Desmundo)» (mais informações em: http://www.telunb.com.br/index.php).

12.10.10

AS SEGUNDAS JORNADAS DE SINTRA... E O QUE SE SEGUE

Passaram mais umas Jornadas Llansolianas de Sintra. É tempo de balanço rápido, antes da publicação do volume que documentará o que se disse e viu. Este ano quisémos pôr à prova o texto de Maria Gabriela Llansol, submetendo-o a olhares novos, de leitores não muito iniciados, alguns quase virgens deste vício de ler Llansol como quem a lê sempre pela primeira vez. O resultado correspondeu às expectativas – como teria de ser com os leitores de excepção que este ano aceitaram o convite – e o desafio – de mergulhar nos labirintos da alma e nos arcanos da escrita de M. G. Llansol.



Eduardo Lourenço abriu com algumas intuições certeiras e, como é seu apanágio, fulgurantes na formulação encontrada, ao referir a «condição pré-metafísica» deste Texto, o paradoxo da sua «simplicidade-obscuridade», a sua capacidade de «tomar o dom textual da realidade à letra», permitindo assim ao leitor/legente «estar no texto» (não haverá fórmula mais adequada para o modo de ler pedido pela escrita de Llansol).
Depois, O Jogo da Liberdade da Alma e outros livros foram sendo iluminados por múltiplos olhares que viram neles uma «topologia quântica textual» e um rasto «medusiano/penelopiano» (Carlos Couto Sequeira Costa), ou o cruzamento do «sexo de ler» e da paisagem no espaço de um «puro sim» (Blanchot) proporcionado pela «desmemória» (Lúcia Castello Branco). Despiram-se dos seus sentidos mais correntes os termos-chave de Jogo, Liberdade e Alma em Llansol, inserindo-os em linhagens que vão dos pré-socráticos a Espinosa e Schiller (João Barrento); falou-se da «mestiçagem», do «funambulismo mágico» e da «explosão vertiginosa e meteórica do inédito» (o poeta francês Yves Peyré), trouxeram-se testemunhos de leitores franceses abismados com a subtileza e a pluralidade da «cena viva» e da dramaticidade da escrita de LLansol (Muriel Bonicel, livreira como as já não há em Portugal). Trouxe-se para o texto llansoliano o processo da colagem, com a sua «harmonia difícil» e o seu espaço vibrante de «correspondências» (Matteo Bianchi e Carolina Leite, editores de M. G. Llansol em francês e italiano); traçaram-se paralelos entre a escrita da palavra e a da música, com as suas «polifonias atonais» (Gilda Oswaldo Cruz, antes do recital de piano com obras de Bach, Messiaen, Schoenberg e Cláudio Santoro); e analisaram-se processos («a metabolização do real», o recurso ao «sarcasmo subterrâneo») e os fundos imemoriais, radicados nos «atributos variáveis dos mitos», desta escrita e do seu universo (António Vieira). E por fim veio aquele extraordinário momento em que Hélia Correia, colocando a questão da relação com o texto de Llansol em termos de dom e aprendizagem, de entrega, mas não de profecia, o apresentou em paralelo, óbvio e irrecusável, com a sua relação com os gatos e o gesto de «fazer festas na barriga» de ambos, seres de fascínio e «corpo vivo de leitura».






Também as apresentações de novos livros – Um Arco Singular. Livro de Horas II (Assírio & Alvim), por José Manuel de Vasconcelos, e «Nada ainda modificou o mundo...». Actualidade de Llansol (Mariposa Azual), por Maria João Reynaud – foram muito além do que é mais habitual nestas circunstâncias, em lucidez, profundidade e sensibilidade à matéria viva destas duas novas publicações.



E a exposição Rara & Curiosa. Os papéis avulsos de Llansol deu a ver uma parte ínfima, mas representativa, do universo manuscrito deste espólio. A encerrar, a voz forte e modulada de Diogo Dória, dando corpo a três fragmentos de escrita dos cadernos inéditos, da fase de elaboração de O Jogo da Liberdade da Alma (1998-99), testemunhou de forma impressionante a capacidade de iluminação do real e de penetração de si próprio desse «ser de escrita» que dá pelo nome de Maria Gabriela Llansol.


Em suma, pode dizer-se que as Jornadas deste ano constituiram dois dias plenamente conseguidos. Mas que não nos levam a descansar à sombra do já feito. Retomámos já o trabalho com vista à próxima grande iniciativa do Espaço Llansol, a exposição sobre Llansol e a Europa, a inaugurar em 27 de Março de 2011 no Centro Cultural de Belém, com o título «Sobreimpressões».
Damos a seguir uma primeira ideia dos objectivos desse grande evento, da sua estrutura e do que esperamos que possa acontecer em seu redor.


«SOBREIMPRESSÕES»
A dimensão europeia da Obra de Maria Gabriela Llansol
Exposição e Dia Llansol no Centro Cultural de Belém
27 de Março de 2011

A exposição e o Dia Llansol pretendem assinalar o significado e a dimensão da história política, espiritual e cultural da Europa na Obra da escritora MARIA GABRIELA LLANSOL (1931-2008) desde a publicação do primeiro volume da sua primeira trilogia, O Livro das Comunidades (= Geografia de Rebeldes. 1), em 1977. Foi com esse «livro-fonte», escrito nos anos do exílio na Bélgica, que começou a aventura, única na literatura portuguesa contemporânea, da busca de um sentido para a história da Europa através da recuperação de algumas das suas figuras maiores do pensamento, da acção política, da arte, da literatrura, da espiritualidade – portuguesas, espanholas, francesas, belgas, holandesas, alemãs, polacas, italianas, dinamarquesas (vd. Mapa com Figuras).
É a própria autora quem, num dos seus livros, traça nos seguintes termos a genealogia deste projecto do humano para a Europa, que prosseguirá até ao fim sob diversas formas:
Há muitos anos, quando comecei a viver na Bélgica, sem presssentir que seria por tantos, esta nossa longa ausência fez-me uma profunda impressão. Estava eu no béguinage de Bruges, com o sentimento fortíssimo de que já ali teríamos estado. Nós, não era eu. Já ali tínhamos sido alguém, alguém daquele lugar, e agora, inexplicavelmente, não havia ali, excepto na minha impressão, nenhuma memória de nós. Nem sequer o esquecimento. Data de então a presença constante, invasora e quase exclusiva, de certas figuras europeias nos meus livros […]
Fez-se ali o nó de que depois desfiei o texto. Comecei nas beguinas; destas, passei a Hadewijch, a Ruysbroeck. Destes, a João da Cruz e a Ana de Peñalosa. Fui conduzida por todos eles a Müntzer, à batalha de Frankenhausen e à cidade utópica de Münster, na Vestefália. Nos restos fracassados destes homens encontrei Eckhart, Suso, Espinosa, Camões e Isabel de Portugal. E foi por sua mão que fui até Copérnico, Giordano Bruno, Hölderlin, que todos eles anunciavam Bach, Nietzsche, Pessoa, e outros que a nossa memória ora esquece, ora lembra tão intensamente que me parece outra forma de os esquecer. De esquecer tudo isso.

(Lisboaleipzig 1, pp. 88-89)

A exposição organiza-se em seis lugares, a saber:

LUGAR 1:

A comunidade sem regra: Beguinas e místicos
a) Beguinas e místicos flamengos/renanos (Hadewijch de Antuérpia e Eckhart)
b) O misticismo ibérico: Ibn Arabi e João da Cruz (e Ana de Peñalosa)

LUGAR 2:
O nascimento da liberdade de consciência: Rebeldes e iconoclastas
Thomas Müntzer e a batalha de Frankenhausen; Münster e a experiência anabaptista; Nietzsche e a visão de um novo homem

LUGAR 3:
O litoral do mundo e o caminho da água
Portugal e a Europa na Idade Moderna
Luís M./Comuns / Camões ; D. Sebastião

LUGAR 4:
A geografia imaterial por vir: Dos poetas
Hölderlin

LUGAR 5:
O que pode um corpo: Em busca das fontes da alegria
Espinosa

LUGAR 6:
O caminho do dom poético: Lisboaleipzig
Aossê/Fernando Pessoa e J. S. Bach


Para além da exposição, que se orientará por princípios interactivos e dinâmicos, correspondendo ao próprio espírito da Obra de Llansol, haverá no Centro Cultural de Belém, no «Dia Llansol», e noutros lugares, nos dias que se seguem, vários eventos dedicados à escritora e a este tema, em que prevemos os seguintes:
Abertura oficial pelo Dr. José Manuel Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, membro do Espaço Llansol e grande admirador da obra de Llansol (sujeito a confirmação).

– Painel em que especialistas nacionais e estrangeiros debaterão a Obra de Llansol e o tema da exposição.

– «Ervilhas e Bach: Um concerto para Maria Gabriela Llansol», com peças da sua predilecção (em particular de J. S. Bach) e uma peça original do compositor português João Madureira.

– «Escritores lêem Llansol»: Leituras de textos de Llansol e testemunhos, por escritores portugueses.

– Apresentação de um documentário sobre as Figuras europeias da exposição e respectivos lugares de origem e actuação (em Portugal, Espanha, Bélgica, Holanda e Alemanha).

- Projecção de filmes disponíveis sobre algumas das Figuras europeias presentes na exposição, com discussão.
– Edição de um caderno que acompanha o «Dia Llansol», com documentação e iconografia sobre as Figuras europeias e respectivos lugares (pelo CCB).
– Edição de um livro-catálogo com textos das principais figuras europeias presentes na exposição, ensaios sobre elas, textos éditos e inéditos de M. G. Llansol e iconografia histórica e original.

4.10.10

O LIVRO DE HORAS I NA COLÓQUIO-LETRAS

O último número da revista Colóquio-Letrras (o 175, Setembro-Dezembro 2010), inclui uma longa, minuciosa e muito atenta nota crítica de Isabel Cristina Mateus, professora e investigadora da Universidade do Minho, sobre o primeiro dos «Livros de Horas», Uma Data em Cada Mão, saído o ano passado na Assírio & Alvim.
A autora, que faz uma excelente leitura contextualizadora dos diários inéditos de Llansol, escreve, por exemplo:

«Aparentemente, Uma Data em Cada Mão não vem acrescentar nada de substancialmente novo ao projecto de escrita llansoliano construído (ou melhor, em construção) ao longo dos cerca de trinta volumes publicados em vida da escritora... [...] E, no entanto, Uma Data em Cada Mão vem trazer tudo de novo àquilo que já conhecíamos desse projecto: um olhar diferente, mais próximo, mais íntimo, sobre este universo, uma porta entreaberta a cujo limiar assoma, com mais nitidez do que nunca, uma figura desenhando com a mão um gesto que nos convida a entrar.»
E, a concluir, lemos ainda:
«... Comentário a uma observação (provocadora) do diário: 'Os bons escritores fazem os maus diários. Aceito fazer um mau diário' (p. 61). Não é certo que estejamos perante um 'mau diário'; mas estamos, seguramente, perante uma 'grande escritora.»