31.5.09

NORMAS DE CONSULTA E UTILIZAÇÃO
DO ESPÓLIO DE M. G. LLANSOL


(Clique na imagem para aumentar)

29.5.09

LLANSOL E(M) GONÇALO M. TAVARES,
ou
DO MEDO CRIATIVO



Acaba de sair, na Relógio d'Água, um novo livro de Gonçalo M. Tavares – Breves Notas sobre as Ligações (Llansol, Molder, Zambrano) – anunciado já há uns meses, e em que se estabelecem ligações entre textos de «três escritoras cuja leitura exige de nós uma resposta, um movimento paralelo, uma deslocação», escreve o Gonçalo na dedicatória. Ele próprio faz esse movimento paralelo e dá essa resposta, nos textos que escreve entre os fragmentos de Llansol, Maria Filomena Molder e Maria Zambrano que servem de catalizador e espelho para o seu próprio pensamento.
O livro alargou-se e mudou em comparação com o original que o autor me enviou há uns anos, e em que, na linha de um outro escrito seu, em que anota pensamentos em «tabelas literárias» a partir de Roland Barthes e Musil (A Perna Esquerda de Paris seguido de Roland Barthes e Robert Musil, Relógio d'Água, 2004), estabelece agora ligações entre estas três escritoras-filósofas - e as prolonga e comenta com o seu próprio texto.
Escolho de entre os fragmentos do livro uma linha, um filão, que parte de uma frase duas vezes citada, de Maria Gabriela Llansol, em que se fala da «arte de fazer perigar os corpos» (p. 38, 40). Porque esta arte do perigo, do medo, do improvável e mesmo do absurdo é um pressuposto essencial da escrita – foi-o para Llansol, continua a sê-lo para Gonçalo M. Tavares. É uma arte funâmbula, de saltimbancos e de alto risco, sempre na corda bamba entre o que a Maria Gabriela chamou um dia «os prazeres do jogo» e «os perigos do poço». Entre o jogo e o perigo, entre o lúdico e o que mete medo, sob o signo da mutação (da percepção da metamorfose, mas com vista a «alcançar a imobilidade» do reino vegetal, p. 49) e do enigma (assustador) da criação – é este o espaço da escrita, da arte que desafia o corpo e parte sempre dele, confrontando-o com «o perigo de ser humano» – o único que vale a pena, escreve Llansol em O Senhor de Herbais. Fora da simetria, contra as convenções da verdade e da própria escrita (que também o Gonçalo vem minando produtivamente em tudo o que escreve), no fio da navalha da in-tranquilidade e da contradição, do combate produtivo. Neste livro lemos a páginas tantas que o grande problema, e o necessário desafio, é «fazer amizade com a sucessão dos sins e nãos». E porquê esta dificuldade? Porque «uma coisa é sempre igual, e varia muito». O mesmo e os seus outros, o uno que não é único.
Podia ser Llansol, ou qualquer das outras autoras-cúmplices deste livro. Trata-se, no fundo, do princípio da existência de tudo em dobra, em mutação e amplificação. E a chegada a essa dobra, ao reverso das coisas, passa pelo medo. A esse lugar que solicita e atrai quem escreve, e é sempre imprevisível, chama Llansol por vezes a metanoite. É o medo (que é desejo) desse lugar que se torna criativo – «o medo de subir ao sempre máximo da parede», diz a mulher no livro Parasceve. Puzzles e ironias. O medo (superável e superado) é o sustentáculo de «uma alma crescendo», de «um corp'a 'screver», de «um ser sendo».
Este novo livro do Gonçalo vem dizer-nos, entre muitas outras coisas, que a escrita é incompatível com o medo – aquele que impede os corpos de atravessar o Vazio, de reconhecer a diversidade dos mundos, de vislumbrar a contradição; mas também que a escrita é impensável sem o medo, sem a tensão nascida do mistério do ser e da vida. O medo gera a interrogação, o medo é o espanto original que abala o corpo (também Maria Filomena Molder e Maria Zambrano parecem ter isto sempre presente), desperta a consciência e permite a criação, filha da inquietude e desse «desconhecido que nos acompanha», o mundo.
É o que me diz, entre outras, também uma página (a 46) d' A Perna Esquerda de Paris..., em que o Gonçalo parece escrever um «poema-sem-eu» llansoliano (coisa rara em Portugal), ou uma reflexão musiliana. Aí se lê: «Precisamos com urgência / de uma ciência obcecada pelo falso, de / uma ciência que se desinterese do verdadeiro / ou pelo menos do explicável...», «Inventa pontos de fúria numa frase, / e ainda pontos tranquilos. / Imita-te, e falha. A criatividade é isto.»
Também o pensamento cruzado e múltiplo presente neste livro de Gonçalo M. Tavares é isso – e muito mais.
João Barrento

27.5.09

LLANSOL EM FRANÇA: A VIAGEM CONTINUA


Desde há um ano, quando sairam nas revistas Décharge e Poezibao dossiers com textos de Llansol e sobre a sua Obra, e mais recentemente desde a publicação de O Jogo da Liberdade da Alma + O Espaço Edénico em francês, o nome de Maria Gabriela Llansol não pára de ecoar em vários lugares de França, devido ao empenho e à paixão por este texto de uma das suas tradutoras, Cristina Isabel de Melo.
Depois do lançamento de Le Jeu... em Paris, com a presença dos editores da Pagine d'Arte, Carolina Leite e Matteo Bianchi, Llansol vai estar presente, pela mão de Cristina de Melo, nos encontros literários de Frontignan (no sul de França, perto de Montpellier), de novo em Pont-Aven, na Bretanha, e no início de 2010 em Roche-sur-Yvon, na Vendée, com a colaboração de Luce Guilbaud, editora da Décharge. Cristina de Melo prepara também um dossier Llansol para a revista mensal de literatura contemporânea Le Matricule des Anges, com o ensaio de Nilson Oliveira (editor da revista brasileira Polichinello) «Maria Gabriela Llansol: a escrita como vontade», a que nos referimos já aqui.
Entretanto, deverá sair ainda em Junho, na editora de arte Les Arêtes (La Rochelle), mais um volume com textos de Llansol (O Raio sobre o Lápis, Cantileno e Hölder de Hölderlin), em tradução de Guida Marques.

26.5.09

LLANSOL DIALOGA COM BALTHUS E AS ANDORINHAS

Mais alguns excertos dos cadernos inéditos de Maria Gabriela Llansol, desta vez em italiano, na revista Libretto, da editora suíça Pagine d'arte, que editou O Jogo da Liberdade da Alma e O Espaço Edénico em francês (ver notícia aqui) e italiano. Textos que dão conta do seu diálogo com um quadro de Balthus na abertura do Museu de Arte Moderna-Colecção Berardo, em Sintra, e com as andorinhas que voltejam em redor da casa. Estamos em Maio de 1997. Os excertos do Caderno 47 são acompanhados de dois pequenos textos, de João Barrento e Maria Etelvina Santos, que destacam a «ataraxia activa do olhar» de Llansol e a sua atenção sempre renovada às «imagens nuas».

19.5.09


Mais algumas referências a artigos e ensaios sobre Llansol, disponíveis na Internet. O ensaio de Nilson Oliveira, editor da revista Polichinello (Belém do Pará), que dedicou recentemente um dossier a M. G. Llansol, com o título «Maria Gabriela Llansol: a escrita como vontade», pode ler-se aqui, na revista online Cerebrau: Filosofia-Literatura-Música, com data de 13 de Março de 2009.
O «Suplemento Literário» do Jornal de Minas (Belo Horizonte), publicou por mais de uma vez textos sobre Llansol, de que destacamos hoje dois (clique no respectivo link):



João Rocha,
«Os cinco apontamentos»,
no nº de Julho 2007
Vania Baeta,
«Salve Leitura»,
no nº de Fevereiro 2008.

16.5.09


OS CADERNOS DE M. G. LLANSOL EM PDF


A primeira série dos cadernos manuscritos do espólio de Maria Gabriela Llansol (76 cadernos numerados, com um total de 17.541 páginas, que cobrem o período de 1974 a 2006), digitalizados em 2008 pelo Espaço Llansol com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, encontram-se disponíveis para consulta em formato PDF na sede do Espaço Llansol em Sintra.
Esta primeira série será completada por uma segunda (78 cadernos não numerados, de preenchimento irregular, num total de mais de 5.000 páginas), que se encontra em fase de digitalização, e a que se acrescentarão 50 agendas, 12 blocos de notas e muitas centenas de papéis avulsos. Paralelamente, estamos a elaborar, para a primeira série dos cadernos, os seis índices que permitirão num futuro próximo efectuar buscas em todo o espólio manuscrito, orientadas de acordo com esses índices: onomástico, de lugares, de Figuras da Obra, de obras referidas, temático e de sonhos.
Os interessados em consultar o núcleo de cadernos já disponível (mas ainda sem índices), deverão contactar o Espaço Llansol através do e-mail: espacollansol@gmail.com.

6.5.09

LLANSOL: O DOM DA PAISAGEM


Acabamos de receber o belíssimo catálogo da exposição «arte natura – una relazione infinita», editado por Pagine d'arte (a editora suíça de M. G. Llansol) para uma exposição patente até 28 de Junho no Museo Villa dei Cedri da cidade suíça de Bellinzona. Nele se pode ler, entre vários outros textos sobre a relação arte-natureza (de Jean Louis Schefer, Yves Bonnefoy, Olivier Delavallade, Rosa Pierno, Fabio Pusterla e Matteo Bianchi), uma magnífica e sensível reflexão de Carolina Leite sobre «O dom da paisagem» na Obra de Llansol. Dela transcrevemos um parágrafo:


Nella scrittura di Gabriela Llansol c'è una relazione amorosa, libidica, non solo logorata, ma anche probabilmente perduta, fra i sessi umani e il sesso della natura. Ma questa Natura, non umana, così minacciata, ci è mostrata come parte indiscutibile di noi, di quello che in noi è, a ragione, non umano, estraneo alle coordinate della nostra stessa configurazione. Ma negare questa dimensione sarebbe escluderci, volontariamente, da una possibilità di nominare enigmi, ma soprattutto di ampliare la comprensione della singolarità dell'umano e del non umano.